quarta-feira, 10 de abril de 2013

Instrumento do Wu Wei

Quem teve a oportunidade de ouvir uma orquestra sinfônica, uma banda de jazz, um grupo de Chorinho, uma roda de samba ou um Regional, com certeza, percebeu a importância de cada instrumento no seu contexto.

Os instrumentos rítmicos fazem a marcação do tempo, a velocidade e a intensidade com que todos seguirão. Simulando o coração humano, os rítmicos vão determinando o andamento daquele corpo musical. Os instrumentos de cordas, e os de teclas, vão tecendo a malha harmônica onde os metais irão bordar seus caminhos melódicos, determinando a emoção, seja pelo improviso ou pela firmeza da batuta do seu regente.

Um músico precisa de um bom instrumento para poder reproduzir seu talento e fazer soar a sua alma musical. Esse profissional cuida delicadamente do seu instrumento para que ele esteja sempre pronto para relatar suas intenções mais sutis. Bons acessórios, afinação rigidamente conferida, uma boa posição corporal e o relaxamento necessário para se expressar fazem parte do seu arsenal. O “tocador” está sempre preocupado em treinar, estudar, para que ele possa executar da maneira mais exata a função que seu instrumento ocupa em solo ou em conjunto.

Por outro lado, pouco adianta quando um exímio músico se depara com um instrumento que não esteja à altura do seu cabedal. Ele consegue executar seus sons, mas com certa angústia, pois sua alma não pode se expressar meritoriamente como foi preparada.

Traço esse enredo “Músico x Instrumento” porque, às vezes, sinto o viver como uma orquestra bem arranjada, repleta de músicos com seus instrumentos (cada um de nós) mais variados, onde a cada momento a sina (música) muda e é preciso adaptar-se imediatamente ao seu compasso, assim como um instrumento.

Um dito popular: “A gente toca conforme a música”.
Gosto de pensar que somos instrumentos de algo maior, que chamo agora de Vida, “A Grande Maestrina”. Ela determina o tom, o ritmo e inicia imediatamente após sua determinação. Se o instrumento não seguir imediatamente a batuta, a platéia se assusta. Dói aos ouvidos.

A música anterior era uma valsa, daquelas que estamos acostumados a tocar com facilidade, mas agora a ordem é um samba. Precisamos então mudar o ritmo imediatamente, acertar o tom e cumprir com nosso papel nessa orquestra, antes que a platéia arremesse seus ovos e tomates sobre nós.

A música está sendo bem conduzida, estamos executando bem o nosso papel, porém, de repente, a grande maestrina faz o sinal que quer ouvir o nosso improviso. Momento temível, e terrível, para os que não se prepararam em casa. Não se afinaram bem. Não trocaram suas cordas ou palhetas velhas. Não estudaram as escalas, nem treinaram seu corpo para essa execução.

Quando a filosofia chinesa do Wu Wei - agir pelo não agir – nos orienta sobre sua máxima é, mais ou menos, isso que ela tenta nos passar. Não que não tenhamos domínio sobre nossa vida, que não precisamos fazer nada, que tudo acontecerá sem nosso esforço. Ela quer dizer que não devemos gastar nosso tempo tentando reger, mas que dediquemos nosso tempo para tornarmo-nos um bom instrumento. Agindo dessa maneira estaremos preparados para sonorizar, a contento, as peças que a vida, nossa grande maestrina, nos prepara. Dedicar nossas mentes e nossos esforços para sermos grandes instrumentos é bem mais fácil, sem tensão e sem estresse, que tentar fazer o papel da maestrina.

É certo que precisamos visitar com freqüência um bom luthier para que estejamos sempre afinados com a orquestra, caso seja a nossa intenção não sairmos do show com a roupa toda suja por ovos e tomates.

Aqueles que são músicos sabem, é inegável e inenarrável o prazer de tocar um bom instrumento... e todos o querem.

2 comentários:

  1. A Grande Maestrina concedeu-me a honra de tocar ao lado do Grande Músico/com seu encantado Instrumento, Vladimir Ribeiro, que segue com passos firmes, o Som e Tom do Nosso Criador! BRAVO!

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  2. A honra é toda minha. Obrigado pelo afeto.

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