segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Aposentadoria Amigável... (betrayal - perfidy - trahison)

É comum, na clínica diária, encontramos indivíduos que estão sofrendo emocionalmente por terem conquistado a aposentadoria profissional.

As pessoas sonham com a aposentadoria e quando isto acontece, às vezes, surge também o sofrimento. Elas sofrem porque começam a se sentirem inúteis, desvalorizadas e, o principal, traídas pelos amigos, quando na realidade isso nem sempre acontece. O que há é uma errônea categorização dos amigos ou da situação. Esse pesar é um dos temas mais sugeridos quando profiro palestras empresariais.

Certa vez, um senhor que se tratava comigo, relatou que não conseguia suportar a dor da traição dos amigos, pois era, quando na ativa, o diretor jurídico de uma grande empresa multinacional. Eram tantos os presentes que ganhava que sua esposa se irritava com presentes espalhados por toda a casa. Ele precisou fazer um pequeno cômodo no quintal da sua casa para poder estocar a enorme quantidade de cestas de natal, eletrônicos, bebidas importadas e outros presentes que o enviavam frequentemente.

Ele disse que era constantemente convidado para apadrinhar crianças, casamentos. Sempre tinha convites para casas de praia, sítios, fazendas e após se aposentar o seu telefone não tocava mais. Quando, raramente, visitava a empresa da qual fez parte, as pessoas pareciam correr dele, não queriam conversar ou trocar idéias, fingiam não vê-lo. Vários fatores podem gerar essa reação dos “amigos” da época de trabalho, mas duas são mais comuns.

A primeira está relacionada à falta de preparo de certos indivíduos para estarem no poder. Esses indivíduos não conseguem separar seu cargo das relações pessoais (humanização profissional) e acabam por machucar outras pessoas com seu comportamento excessivamente aristocrático. Sentindo-se privilegiados pelo destino, entendem que podem gritar, xingar, espezinhar e humilhar os seus “súditos” (leia-se: colegas de trabalho) e, assim pensando, conquistam uma inimizade anônima que será revelada na sua aposentadoria ou na sua precoce perda do cargo.

A segunda questão, a qual dedico esse texto, é a errônea categorização dos amigos. Alguns indivíduos não conseguem perceber a diferença entre as atitudes vindas de amigos das atitudes vindas de colegas de trabalho, embora a distância entre elas não seja tão sutil. Costumam ficar embriagados pela performance do cargo e não conseguem diferenciar uma manifestação profissional de uma manifestação amigável.

Não entendendo quando estão sendo necessários ou amados, esses indivíduos deferem atos invertidos gerando o verdadeiro caos emocional, pois invertendo a compreensão dos vetores ele acaba comercializando os amigos e fraternizando os seus compradores.

Recentemente, recebi um texto de autoria do Max Gehringer que quero dividir com meus leitores, acreditando que ilustra bem a situação.

aisentes Existem cinco estágios em uma carreira:

O primeiro estágio é aquele em que o funcionário precisa usar crachá, porque quase ninguém na empresa sabe o nome dele.

No segundo estágio, o funcionário começa a ficar conhecido dentro da empresa e seu sobrenome passa a ser o nome do departamento em que trabalha. Por exemplo, Heitor de Contas a Pagar.

No terceiro estágio, o funcionário passa a ser conhecido fora da empresa e o nome da empresa se transforma em sobrenome: Heitor do Banco Tal.

No quarto estágio, é acrescentado um título hierárquico ao nome dele: Heitor Diretor do Banco Tal.
 
Finalmente, no quinto estágio, vem a distinção definitiva. Pessoas que mal conhecem o Heitor passam a se referir a ele como “o meu amigo Heitor, Diretor do Banco Tal”'.

Esse é o momento em que uma pessoa se torna, mesmo contra sua vontade, um “amigo profissional”.

Existem algumas diferenças entre um amigo que é amigo e um amigo profissional. Amigos que são amigos trocam sentimentos. Amigos profissionais trocam cartões de visita.

Uma amizade dura para sempre. Uma amizade profissional é uma relação de curto prazo e dura apenas enquanto um estiver sendo útil ao outro.

Amigos de verdade perguntam se podem ajudar. Amigos profissionais solicitam favores.

Amigos de verdade estão no coração. Amigos profissionais estão numa planilha.

É bom ter uma penca de amigos profissionais. É isso que, hoje, chamamos networking, um círculo de relacionamentos puramente profissional. Mas é bom não confundir uma coisa com a outra. Amigos profissionais são necessários. Amigos de verdade, indispensáveis.

Algum dia - e esse dia chega rápido - os únicos amigos com quem poderemos contar serão aqueles poucos que fizemos quando amizade era coisa de amadores.”

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