É comum, na clínica diária, encontramos indivíduos que estão
sofrendo emocionalmente por terem conquistado a aposentadoria profissional.
As
pessoas sonham com a aposentadoria e quando isto acontece, às vezes, surge
também o sofrimento. Elas sofrem porque começam a se sentirem inúteis,
desvalorizadas e, o principal, traídas pelos amigos, quando na realidade isso
nem sempre acontece. O que há é uma errônea categorização dos amigos ou da
situação. Esse pesar é um dos temas mais sugeridos quando profiro palestras
empresariais.
Certa
vez, um senhor que se tratava comigo, relatou que não conseguia suportar a dor
da traição dos amigos, pois era, quando na ativa, o diretor jurídico de uma
grande empresa multinacional. Eram tantos os presentes que ganhava que sua esposa
se irritava com presentes espalhados por toda a casa. Ele precisou fazer um
pequeno cômodo no quintal da sua casa para poder estocar a enorme quantidade de
cestas de natal, eletrônicos, bebidas importadas e outros presentes que o enviavam
frequentemente.
Ele
disse que era constantemente convidado para apadrinhar crianças, casamentos.
Sempre tinha convites para casas de praia, sítios, fazendas e após se aposentar
o seu telefone não tocava mais. Quando, raramente, visitava a empresa da qual
fez parte, as pessoas pareciam correr dele, não queriam conversar ou trocar
idéias, fingiam não vê-lo. Vários fatores podem gerar essa reação dos “amigos”
da época de trabalho, mas duas são mais comuns.
A
primeira está relacionada à falta de preparo de certos indivíduos para estarem
no poder. Esses indivíduos não conseguem separar seu cargo das relações
pessoais (humanização profissional) e acabam por machucar outras pessoas com
seu comportamento excessivamente aristocrático. Sentindo-se privilegiados pelo
destino, entendem que podem gritar, xingar, espezinhar e humilhar os seus
“súditos” (leia-se: colegas de trabalho) e, assim pensando, conquistam uma
inimizade anônima que será revelada na sua aposentadoria ou na sua precoce
perda do cargo.
A
segunda questão, a qual dedico esse texto, é a errônea categorização dos
amigos. Alguns indivíduos não conseguem perceber a diferença entre as atitudes
vindas de amigos das atitudes vindas de colegas de trabalho, embora a distância
entre elas não seja tão sutil. Costumam ficar embriagados pela performance do
cargo e não conseguem diferenciar uma manifestação profissional de uma
manifestação amigável.
Não
entendendo quando estão sendo necessários ou amados, esses indivíduos deferem
atos invertidos gerando o verdadeiro caos emocional, pois invertendo a
compreensão dos vetores ele acaba comercializando os amigos e fraternizando os
seus compradores.
Recentemente,
recebi um texto de autoria do Max Gehringer que quero dividir com meus
leitores, acreditando que ilustra bem a situação.
“
Existem cinco estágios em uma
carreira:
O
primeiro estágio é aquele em que o funcionário precisa usar crachá, porque
quase ninguém na empresa sabe o nome dele.
No
segundo estágio, o funcionário começa a ficar conhecido dentro da empresa e seu
sobrenome passa a ser o nome do departamento em que trabalha. Por exemplo,
Heitor de Contas a Pagar.
No
terceiro estágio, o funcionário passa a ser conhecido fora da empresa e o nome
da empresa se transforma em sobrenome: Heitor do Banco Tal.
No
quarto estágio, é acrescentado um título hierárquico ao nome dele: Heitor
Diretor do Banco Tal.
Finalmente,
no quinto estágio, vem a distinção definitiva. Pessoas que mal conhecem o
Heitor passam a se referir a ele como “o meu amigo Heitor, Diretor do Banco
Tal”'.
Esse
é o momento em que uma pessoa se torna, mesmo contra sua vontade, um “amigo
profissional”.
Existem
algumas diferenças entre um amigo que é amigo e um amigo profissional. Amigos
que são amigos trocam sentimentos. Amigos profissionais trocam cartões de
visita.
Uma
amizade dura para sempre. Uma amizade profissional é uma relação de curto prazo
e dura apenas enquanto um estiver sendo útil ao outro.
Amigos
de verdade perguntam se podem ajudar. Amigos profissionais solicitam favores.
Amigos
de verdade estão no coração. Amigos profissionais estão numa planilha.
É
bom ter uma penca de amigos profissionais. É isso que, hoje, chamamos networking,
um círculo de relacionamentos puramente profissional. Mas é bom não confundir
uma coisa com a outra. Amigos profissionais são necessários. Amigos de verdade,
indispensáveis.
Algum
dia - e esse dia chega rápido - os únicos amigos com quem poderemos contar
serão aqueles poucos que fizemos quando amizade era coisa de amadores.”
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