sábado, 5 de março de 2011

Remédio para memória...(Het geheugen - Mémoire)

A cultura ocidental alimenta o processo de multifunção mental. É considerado “inteligente” todo aquele que pensa muito e em muitas coisas ao mesmo tempo. Esse hábito acaba por não permitir a linearidade de propósito.

Simulando a nossa rotina mental padrão de um indivíduo que trabalha nos turnos manhã e vespertino, estuda inglês à noite e depois namora, antes de dormir. Veremos que seria algo mais ou menos assim:

Acorda e vai para o banho. Enquanto toma banho está pensando na pronúncia exata das palavras terminadas em –ey, o corpo toma banho e a mente está lá nas aulas de inglês. Sai do banho e vai fazer o desjejum, então percebe que não usou o shampoo que precisava usar. Logo diz: -“nossa... me esqueci de usar o shampoo recomendado pelo meu cabeleireiro... minha memória está ruim!”

Então muda a sintonia mental para o namoro, enquanto o corpo toma o café da manhã, a mente viaja novamente e pensa: “vou convidá-la para assistir o lançamento desse novo filme em cartaz.” Termina o desjejum e entra no carro em direção ao trabalho. No carro se lembra que não tomou o remédio que deveria ser tomado em jejum, então diz: -“minha memória está horrível... poxa vida!”

Chegando ao trabalho inicia suas atividades corporais, digo corporal porque a mente está pensando no seu envelhecimento. -“Com uma memória tão ruim devo estar ficando velho mesmo, preciso me cuidar... ai, ai, ai meu Deus!” Perdido nesse tema passa a manhã assim, com aquele semblante de mal-humor e preocupação. Ruim trabalhar ao lado de alguém assim.

Na mesa do almoço, enquanto seu corpo se alimenta, a mente se lembra que não enviou os e-mails para a matriz da empresa e não respondeu ao chamado telefônico do cliente. Agora é tarde, já era. Envolvido em sua trama mental se lamenta novamente: -“meu Deus... onde vou parar... que cabeça é essa minha?!”

Tudo que esse indivíduo conseguiu foi se esquecer de tomar a outra dose do medicamento que faz par com aquele que deveria ter tomado pela manhã. Esqueceu-se também de dosar as cores do alimento, conforme foi orientado pelo seu curador. Tudo piora quando um amigo, já de volta ao trabalho, lhe pergunta: -“o que você almoçou hoje?” Ele franze a testa e diz, com um sorriso amarelado: -“sabe que nem sei?!” e logo pensa: -“valei-me Senhor do Bonfim... que está acontecendo comigo?”

A professora de inglês entra em sala, já é noite, e o introspecto protagonista desse exemplo percebe que não fez a lição sobre os verbos irregulares, embora sua preocupação estivesse atada à pronúncia de algumas palavras.

Depois disso tudo, só lhe resta namorar para aliviar esse dia terrível. Assentado no sofá do sogro, abraçadinho com seu bem maior, desabafa sobre o que está acontecendo e não se envergonha em confessar seu grande medo do Alzheimer. Seu bem, tomada de preocupação, inclusive com a genética, ordena que ele ligue imediatamente para seu médico e exija um remédio para a memória, pois ele já estava no carro se despedindo e não se lembrou que hoje era dia do aniversário de namoro.

- Ô pá... voltemos cá, em saudação lisboeta.

Esse exemplo pode não ter sido idêntico aos vividos cotidianamente, mas se aproxima em muito, tenho certeza. Na clínica diária percebemos algo mais ou menos assim. As pessoas se queixam da memória quando a sua grande mazela é a concentração.

Certa vez, em conversa sobre o tema com o sensei Hirashi Kaneshiro, aprendi que ser Zen é estar com o Corpo e a Mente no mesmo lugar, ao mesmo tempo. Uma tarefa que parece fácil, mas só parece.

CONCENTRAÇÃO. Esse tem sido o motivo de acidentes domésticos e empresariais. É também a causa de desempregos, brigas, dilemas e conflitos1. Aconselho uma reflexão detalhada sobre sua “memória” e o desejo de melhor auto entendimento, coisas que um terapeuta poderá ajudá-lo.

Existe uma postura física, um exercício de bioenergética corporal para que aumentemos nosso poder de concentração. Alem desse, existe outro exercício que, embora pareça inútil e infantil, aumenta a concentração e apresenta resultados breves.

Misture dois tipos de grãos diferentes, algo tipo: feijão e milho, soja grão-de-bico, etc. Faça um montinho com os grãos e comece a separá-los corretamente por classe. Errando, misture e inicie novamente. Tente aumentar a velocidade. Esse é um exercício milenar e já tem uma versão moderna. Usam-se cartas de baralho com o lado colorido virado para você. Embaralhe e inicie a separação. Errando, embaralhe e inicie tudo de novo.

Claro que não poderemos deixar de fazer auto crítica sobre nossos valores e avaliar se temos uma meta verdadeiramente propulsora das nossas vidas. Se não temos um objetivo claro de vida, concentraremos em que?!

1- Dilema é um problema que oferece duas soluções, sendo que nenhuma das quais é aceitável. Conflito surge quando há a necessidade de escolha entre situações que podem ser consideradas incompatíveis. Todas as situações de conflito são antagônicas e perturbam a ação ou a tomada de decisão por parte da pessoa ou de grupos.




3 comentários:

  1. Muito legal o texto e a pratica de concentração, vou começar a fazer ela, pois sou muito distraído.
    http://www.youtube.com/watch?v=ZQvHKdICtGE

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  2. Excelente, irei repassar ao colaboradores do grupo Linx no intuito de ajudar nossas equipes.
    Irei postar o blog para todos, mantendo assim sua criação e formato textual.

    Grato
    nelson ribeiro

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  3. Sem problemas, apresente o tema e volte para deixar seu comentário. Obrigado!

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