sábado, 1 de dezembro de 2012

A Arte da Benevolência

A atual inversão, ou perda, de valores está dificultando também as relações e modelos de ajuda. Os colegas que exercitam a tarefa de "curador x curado" podem avalisar a angústia gerada quando o obstáculo ao tratamento é o próprio tratado.

Sensei Hirashi Kaneshiro Sam enviou uma carta para nós ANBATHIANOS onde, como sempre, traduz essa realidade e apresenta sua experiência elocubradora. Apresento-a na íntegra, êi-la:


Arte da Benevolência na Acupuntura, Shiatsu e outras Manipulações Terapêuticas.

Toda prática médica ou terapêutica deve ser antecedida pela Prática da Benevolência e da Compaixão. A Arte da Compaixão será escrito, posteriormente, em outro texto.

Ambas - Benevolência e Compaixão - são entrelaçadas e interligadas, constituindo uma unidade quântica, no linguajar da física moderna. São monísticas em pensamento, enquanto Praticante (Yang) – Receptor (Yin), porém, funcionalmente, o Praticante é Yin Benéfico e o Receptor, Yang Maléfico, em situação de Desarmonia QI.

Mas, no processo médico e/ou terapêutico, sob outro ponto de vista, o respeito mútuo é soberano; com ética relacional e moral consciente e progressiva. Ambas (Ética e Moral) se complementam, onde Ética é Yang em relação à Moral, que é Yin, um em relação ao outro. A relação paciente e praticante (médico, terapeuta, agente de saúde ou socorrista) deve prevalecer ou ater-se, única e exclusivamente em restabelecer a Harmonia QI (saúde plena, apesar da oscilação) do necessitado.

Para isto, é preciso que haja mútua confiança e simpatia entre ambos, cuja objetividade é restaurar a saúde e o equilíbrio dinâmico biológico (homeostase) do corpo-mente-espírito, bem como causar bem-estar e encaminhar a dinâmica curativa do paciente.

Em terapia, o procedimento é mais preventivo do que curativo. A cura é conseqüência da aplicação e resposta corretas do erro-acerto - mais acerto do que erro - baseadas em acertos das técnicas preventivas e profiláticas, segundo a coerência e regularidade biológicas (Teleonomia Existencial). Mas há situações que a cura é impossível, como no caso da artrite deformante. Neste caso, o dever do terapeuta e do médico é, na medida do possível, procurar melhorar a qualidade de vida do consulente.

Em termos de Yin/Yang - uma em relação à outra, Arte da Benevolência é Yin e a Arte da Compaixão, Yang. Na prática, quando ambas coexistem, a terapêutica transcorre, saudavelmente, exercendo forte influência sanadora. No entanto, quando a Benevolência é indiferente (Yin Indiferente) - na área médica e terapêutica - não fluirão bem quanto for por Yin Benéfico, remotas possibilidades podem ocorrer.

Isto acontece, porque na indiferença, você (doente) é um número e não um Ser Humano dotado de sentimentos e de auto-estima! É um número destituído de valores próprios. Geralmente, quem tem mais projeção social, é levado em consideração. Está condição, infelizmente, depende muito do livre-arbítrio discriminador do profissional da saúde.

Na compaixão (Yang Benéfico), a simpatia pelas necessidades mentais-corpóreas se realça. Porém, a compaixão (não confundir com apiedação!) pode transmutar, assim como na benevolência, onde a pessoa pode passar de simpatia (ser simpático) por antipatia (ser antipático).

É o Yang Indiferente, que pode avançar para o Yang Maléfico de conseqüências imprevisíveis e, em certas condições previsíveis. Ambas - Benevolência (Yin) e Compaixão (Yang) - são, fisiologicamente, pertinentes à função do SISTEMA NER-VOSO AUTÔNOMO (SNA), principalmente. Porém, seu controle é pelo SISTEMA LÍMBICO, depositário da memória, das lembranças.

Na Arte da Benevolência, é imprescindível o intercorrelacionamento saudável e amigável entre praticante e receptor, onde a empatia é o elo sagrado que une terapeuticamente os dois protagonistas (agente curador e paciente). Em outras palavras, enquanto terapia, o praticante deve considerar única e exclusivamente às necessidades tratamentais e básicas da terapêutica da pessoa que vai receber.

Neste ponto de vista, entre terapeuta e receptor, deve ser considerado uma entidade monística só entre os dois. Em outras palavras, o médico ou o terapeuta deve colocar seus préstimos em ajudar o próximo em suas necessidades vitais de recuperar a saúde, ou seja, colocar em sua situação de Harmonia QI.

O Eu (praticante, Yang) e o outro (paciente, Yin) formam uma Reciprocidade Tratamental, isto é, o paciente ("professor") conduz o praticante("discípulo"), pois quem trata (médico, terapeuta, agente da saúde,familiares...) é "dirigido" pelo paciente, dentro de um certo discernimento. É um pensamento raro nos dias de hoje! No tratamento das Terapias Orientais e, por extensão, estende-se a outras modalidades terapêuticas e médicas, já que as patologias e desvios da saúde são pertinentes a um Contexto Universal.

O paciente deve ser visto com subjetividade e não, somente, com objetividade, como é visto, atualmente, pelos praticantes de Medicina Alopática que ficam restritos à visão racionalista cartesiano e da metafísica geométrica da antiguidade grega, de quem são "herdeiros" e ferrenhos defensores na área tratamental.

Na objetividade (Yang Indiferente ou Benéfico Relativo), o doente é visto como alguém que está no estado desconfortável, onde não se leva em conta a pessoa humana, imbuída de sentimentos e de seus valores pessoais. Por isso, o doente, na Língua Inglesa é disease (dis: não; ease: conforto), ou seja, a pessoa que está no estado desconfortável.

Na subjetividade (Yin Desfavorável ou Maléfico), o desvio de saúde, no Pensamento Oriental (Yin Favorável ou Benéfico), é visto como enfermo (I., illness), ou seja, pessoa em desarmonia QI que o médico ou terapeuta, ou agente da saúde, deve se comportar como se estivesse no lugar do enfermo, "sentindo" suas dores. Neste caso, o profissional de saúde "sofre" junto com o enfermo. É como se transferisse para si o que o outro está sofrendo. Por isso, "eu-outro", constitui uma Unidade Monística. O "eu-outro" torna-se um só sujeito, uma só entidade; neste contexto!

É como o comportamento de uma mãe que vê e sente seu filho sofrendo duma moléstia terminal! Isto caracteriza o verdadeiro comportamento do relacionamento paciente-terapeuta ou paciente-médico. Este modo de ver o paciente, com subjetividade, com empatia, é a verdadeira essência do pensamento médico e terapêutico oriental, que se estende para diversas áreas do conhecimento oriental (acupuntura, shiatsu, artes marciais, arteterapia, arranjos florais, ikebana, origami, relacionamento amigável, paisagismo, urbanismo, alimentação nutricional, culinária, pintura, estética, música, arquitetura...).

Este modo de pensar e agir, em muitos casos, hoje em dia, infelizmente, está em extinção, mas ainda é possível encontrar tal modo de ponderação. Na área da saúde, é a dinâmica da compaixão, como Yang Benéfico que o Agente de Saúde comunga. É raro, mas existe, ainda! Este comportamento psicossocial é mais evidente e real entre pessoas que se querem bem, que se amam, familiares (principalmente, pais e filhos) e até entre desconhecidos.

Este humanismo sensível, no entanto, e com grande pesar, na maioria das vezes, por incompreensão, está se extinguindo, consumido que é pela tecnologia moderna. Porém, cabe aos terapeutas, médicos conscientes e outros agentes de saúde, recuperar este vínculo de real significado.

Na Arte da Benevolência - além da boa e saudável reciprocidade amigável - salienta-se a valorização da auto-estima do consulente. E, nos dias atuais, muito mais ainda, devido ao crescente isolamento das pessoas, bem como a falta duma sólida formação e educação cultural em superar o sofrimento da alma (Emoções e Psiquismo) e do rele-gamento espiritual e/ou religioso.

Neste estudo, bem como no seu assenhoreamento de forma cognoscível, mister se torna aperfeiçoar-se na personalidade (Yang), em constante interação progressiva de seu caráter (Yin), procurando corrigir-se e orientando outros no sentido de aperfeiçoamento e auto-aperfeiçoamento. A humildade terapêutica e comportamental é o apanágio que deve caracterizar na Arte da Benevolência, na relação fundamental do eu-outro, onde a amistosidade é o Caminho, é o TAO que conduz ao sucesso terapêutico com compreensão e sabedoria.


Prof. Hirashi Kaneshiro


A N B A T H

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