Duhkha é a Primeira Nobre Verdade do Budismo, costuma ser traduzida com sofrimento, seu axioma básico, é que o sofrimento universal. Nem sempre é sofrimento como tal, mas antes, uma profunda inquietação, uma espécie de desconforto espiritual. Essa palavra pode também ser traduzida como Duh=dois + Kha=condição, estado. A dualidade. A manifestação da dualidade em nossa mente é que nos provoca a inquietude espiritual, levando-nos ao sofrimento.
“O trabalho é ótimo, mas meu chefe, bem, ele é muito intratável.”
“A casa serve perfeitamente, mas tem uma parada de ônibus bem na porta.”
“Meu casamento está realmente o máximo, mas...”
“O feriado é excelente, a não ser que...”
Suhka = felicidade, é o oposto de Dhukha. Um antigo texto oriental dizia que suhka significava originalmente um cubo bem centrado, e Dhukha uma roda que estivesse levemente descentrada, um sacolejar e ranger constantes.
Há aquela sensação desconfortável de ter que fazer algo, mas não querer fazê-lo, de querer fazer algo, mas não ser capaz. A sensação aborrecida de ser condenado se fizer e também se não fizer. A sensação abafada de querer soltar a língua, mas não querer ser agressivo, de querer ir embora sem passar por covarde. E, assim, permanecemos num trabalho sabendo que deveríamos sair, e depois o deixamos com a sensação que de que teria sido melhor ficar. A mudança é temerária, mas do jeito que está não está bom.
Exatamente como se estivéssemos com a roda fora do centro, um sacolejar terrível, abominável, que nos mantém presos ao tédio, à insegurança, escravos da incerteza. O que devemos fazer? Agir como se nada estivesse nos acontecendo, pintar o mundo de azul, agüentar firme e ver o que lucraremos? Se assim agirmos, não daremos as costas para o grande sonho da esperança?!
Quando partimos para o ataque, começamos a pegar varias armas, nunca achamos que já temos a quantidade suficiente de armas. Esse momento é a Inércia. Ela se traduz de uma maneira traidora e discreta, onde começamos a tomar decisões inúteis para nossa felicidade. Rimos mais alto, estabelecemos intenções, estufamos o peito e tomamos resoluções. Bem lá no fundo ficamos com a sensação de termos falhado, de termos traído alguma coisa ou alguém. Passamos a cabeça, o corpo, as quatro patas, mas o rabo está preso. Quem vai espantar as moscas?
E o Centro? Pode ele ficar firme ou esmaecer? Pode ele ser absorvido, dissolvido ou jazer? Crê-se que não haverá o encontro do Centro se não passarmos pela noite escura da alma.
Enquanto estivermos presos a qualquer coisa, pessoa, objeto e conceito, que não for ligado diretamente a nossa alma, não saberemos onde mora o Centro. Percebemos grandes batalhas pela vida onde pessoas sofrem dentro do maior conceito de realização, porém esse conceito não é o conceito da sua alma. Ele fez para alguém ou por alguém, nunca consultou sua alma. Entregou-se aos holofotes e aos aplausos da multidão, calando seu coração para o seu verdadeiro destino, vacinou-se contra a felicidade.
Numa linguagem mais moderna, diria que, o coração é o GPS da alma. Quando nos dedicamos a ouvir somente as imposições exteriores, rompemos com a voz interior. Tentado satisfazer as nossas necessidades impostas por outrem, mudamos o Centro da nossa roda e ai começa o temível sacolejar. Como um vírus espiritual, a descentralização da felicidade, através dos conceitos não pessoais, produz a pandemia que circula no sangue que vai ao nosso coração.
Eu proclamo ser o Centro, e você garante que o Centro é você. Expressamos a mente una como o um singular. Essa conversão se transforma em monologo de oposições, mantidos juntos pela necessidade de predominar a discussão. Eu engano você e sou enganado por você. Só quando o Eu cessa de existir que Eu e você podemos voltar a dançar a nossa dança de unicidade.
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