É muito comum, ao entrevistarmos um colaborador de uma empresa, ouvir algo do tipo:
“- Trabalho aqui há vários anos e nunca roubei, nunca briguei com ninguém, não faço fofocas, nunca matei um dia de serviço, mas isso ninguém dá valor. Acho que deveriam ter me proporcionado maiores ganhos pelo meu comportamento.”
Percebe-se nessa afirmação o sentimento de injustiça que alimenta a vida profissional desse colaborador. Ele está infeliz, certamente. Ouvir isso é como ler as placas que encontramos nos corredores das empresas:
“Aqui trabalhamos para melhor servir.”
“Trabalhamos para a maior qualidade dos nossos produtos.”
“Nosso cliente é o nosso maior patrimônio.”
Fico mal impressionado ao ler ou ouvir algo como relatei acima. Pergunto-me:
- Poderia ser diferente?!
- Ser honesto, pontual, educado, correto, é um favor que o colaborador faz para sua empresa?!
- Alguma empresa sobrevive se não trabalhar com produtos de boa qualidade e com o objetivo de satisfazer seu cliente?!
Imagino que essas afirmações são frutos de pouco conhecimento mercadológico, de pouco conhecimento do próprio negócio e/ou da própria função. Algumas pessoas apenas ocupam o lugar (lugar físico) em sua empresa, pois não exercem a função para qual foram contratadas. Se, frequentemente, um determinado colaborador deixa passar problemas para o seu superior hierárquico, imagino que ele não está atuando satisfatoriamente, deve estar apenas fisicamente presente para justificar o seu salário.
Para ser visto, bem visto, melhor dizendo, é preciso mais que o básico. É necessário que o colaborador demonstre domínio sobre sua função e que se torne uma “peça” fundamental nessa engrenagem empresarial. Espera-se que ele saiba filtrar e contornar as situações com destreza e que tenha habilidade para, quando apresentar um problema, sugerir algumas soluções que não foram tomadas por simples questão hierárquica.
Recordo-me de um caso que ouvi em um treinamento na década de 80, era mais ou menos assim:
Uma empresa contratou um jovem para um cargo de liderança e com um salário acima da média praticada por lá, até então. Assim que a rádio-peão noticiou o fato, um outro colaborador que trabalhava na empresa há muito tempo, sentindo-se traído, ofendido, resolveu marcar uma reunião com o seu presidente. Desejava ele, impávido, questionar porque não foi promovido, em vez de, contratar um novato.
Como todo presidente, esse também não estava lá por nenhum outro motivo que não fosse a sua competência. Quando recebeu o aviso vindo pela secretária sobre a reunião, preparou-se estrategicamente para o embate. Assim que o antigo colaborador adentrou-se à sala, ele o cumprimentou e solicitou-lhe uma missão:
- João, antes de começarmos nossa reunião, gostaria que me fizesse o seguinte favor: hoje à noite faremos uma reunião com toda a liderança da empresa, mas eu não quero servir sanduíches, como de costume. Eles sujam a mesa, a sala e engorduram nosso material de trabalho. Você poderia ir à mercearia da esquina e ver o preço da maçã e se tem em quantidade para todos, por favor?
João aceitou a solicitação, e mantendo o nó na garganta, foi para a esquina. Dez minutos após, volta o João com a missão cumprida.
- Presidente, a maçã está a R$1,50 e tem para todos.
O presidente agradeceu e, usando o interfone, chamou o novato até sua sala. Assim que o novato chegou, o presidente incumbiu-lhe da mesma missão. Imediatamente o novato foi para a esquina. Enquanto isso o presidente jogava conversa fora com o veterano, impedindo-o de entrar no assunto enquanto o novato não chegava. Claro que o veterano não estava entendendo nada, o que só aumentava sua angústia.
Vinte minutos após, o novato se anuncia e adentra dizendo:
- Presidente, o preço da maçã é R$1,50 , porém eu conversei com o dono da mercearia e descobri o seguinte: a uva Itália está, super madura e só vai durar até amanhã, se não consumi-la hoje, amanhã ela estará perdida. Com essa informação consegui que ele as colocasse em bandejas descartáveis, assim poderemos dispensar a faxineira da hora extra. Ele cobrará R$1,20 por bandeja e ainda entregará aqui na hora da reunião. Além de ficar mais apresentável, após a reunião, basta que joguemos no lixo, sem sujeira e com menor custo geral. O Senhor me autoriza a compra?
O presidente e o veterano ouviram tudo atentamente.
Após a fala do novato, o presidente autorizou a compra, agradeceu-lhe e o dispensou. Virou-se para o veterano, que estava rubro de vergonha, e perguntou-lhe:
- Pois bem... João, a que devo a honra da sua visita em minha sala?
Perplexo pelo desfecho do embate, João com os ombros encolhidos, solta um sorriso tímido e amarelo e diz:
- Não é nada demais, eu só queria saber se o Senhor viu nosso time ontem na TV, que jogão... heim?!
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